terça-feira, 12 de abril de 2011

Estrutura de Pensamento - EP


          Estrutura de Pensamento, ou simplesmente EP, é um termo utilizado na abordagem terapêutica denominada de Filosofia Clínica.

          A Filosofia Clínica é um método terapêutico que vem sendo considerado por muitas correntes terapêuticas e psiquiátricas como inovador, cujo foco encontra-se nos conteúdos da subjetividade humana e nos seus modos de ser singulares (uma terapia personalizada para cada indivíduo – criteriosamente formulada face à realidade única de cada ser), e o qual se baseia especialmente no pensamento filosófico e nas neurociências.

           O método foi desenvolvido pelo Filósofo e Terapeuta Lúcio Packter na década de 1980. Com formação nas áreas da medicina, da psicologia e da psicanálise, Packter trabalhou durante muitos anos em hospitais, em especial hospitais psiquiátricos. Durante este tempo, percebeu grandes problemas nestes métodos terapêuticos, tanto na teoria acadêmica (psicológica e psiquiátrica) quanto na prática clínica, em especial com os métodos generalistas utilizados, rompendo então com estes segmentos e passando a buscar outras possibilidades terapêuticas.  Indo estudar na Europa, Packter volta-se completamente para a Filosofia, debruçando-se profundamente sobre dezenas de autores, com foco no estudo da subjetividade humana.

         A Estrutura de Pensamento é definida por Packter como “tudo aquilo que habita o indivíduo”. Um exemplo simplista dos conteúdos que habitam nesta Estrutura de Pensamento seriam emoções, verdades subjetivas, concepções cerca do mundo, buscas, conhecimento, crenças e outros infinitos conteúdos. Essa Estrutura de Pensamento, conforme coloca Packter, vai se construindo, modelando, sendo preenchida de formas e conteúdos ao longo da história do sujeito e pode ser compreendida através de uma análise criteriosa da sua historicidade.

NOTA: a Filosofia Clínica se utiliza dos termos “história” e “historicidade”, cada qual com significados distintos. A historicidade constitui-se da história de vida do indivíduo, contada segundo o seu ponto de vista exclusivo, ou seja, por ele significada. Já a história constitui-se meramente de uma narrativa factual, livre de significações e interpretações.


Em clínica, após a colheita da historicidade do sujeito, os conteúdos desta são organizados por períodos temporais (Dados Divisórios), dados contextuais (Exames Categoriais), dados existenciais (Tópicos da Estrutura de Pensamento) e modos de ser (Submodos).

Percebe-se que sendo essa EP tudo aquilo que habita em em "mim", logo esse “eu” é anterior à ela. Assim, em Filosofia Clínica, podemos compreender a Estrutura de Pensamento como uma organização subjetiva que vai sendo construída ao longo da vida através de uma relação com o mundo. Este é um ponto fundamental, pois mesmo tendo Lúcio Packter uma explicação filosófica mais aprofundada para escolher esta forma de organização do “EU” e da "EP", não pode-se deixar de notar que, ao assumir esta postura, a Filosofia Clínica acaba por não ferir algumas concepções de mundo adotadas por parcelas humanidade, como, por exemplo, a crença na anterioridade do “eu”.

Originalmente a EP fora concebida para representar a Estrutura do Pensamento Filosófico e Terapêutico presente na história da humanidade. uma vez que Packter, durante suas pesquisas, se volta para pouco mais de sessenta pensadores, realizando um profundo trabalho de catalogação epistemológica.

Vejamos uma breve descrição deste trabalho:
“O que eu fiz foi o seguinte: primeiro me certifiquei que por mais que eu soubesse a respeito de qualquer coisa e a respeito de todas as coisas - eu jamais saberia o suficiente para saber às vezes até o necessário. Fora de um critério absoluto e lógico acho que não há defesa para isso. Depois, percebi a insistência de muitas escolas (praticamente todas elas) que procuram entender e responder as questões humanas, a quase todas as questões humanas, como se fossem donas de um saber sagrado. Bobagem!. Achei que uma alternativa a essa mutilação do saber seria tomar o entendimento dessas escolas, arregimentar todo esse conhecimento e então me acalmar para não achar que isso fosse o bastante para explicar todas as coisas... porque simplesmente não é.” (Packter, Lúcio. Porto Alegre, 2001) 

Assim, no início das suas pesquisas, Packter tomou o conhecimento destas mais de sessenta escolas, deixando de lado meras nomenclaturas e arregimentou todo esse saber em Tópicos na forma de uma estrutura, a Estrutura do Pensamento Filosófico e Terapêutico de praticamente toda a história da humanidade, uma série de conteúdos aqui em conversação e relação. 

Em seguida Packter identifica dá início aos trabalhos com indivíduos, identificando tais conteúdos também nos sujeitos, no entanto, agora livres de nomenclaturas e podendo ser identificados conforme as premissas subjetivas do indivíduo. Ele identifica assim os parâmetros de peso subjetivo, percebendo que determinados conteúdos dentro desta Estrutura possuem maior ou menor poder de determinação e movimentação sobre o restante dos conteúdos nela presentes.

Packter, ao elaborar o sistema que seria utilizado para a montagem da Estrutura de Pensamento, dividiu esta em 30 Tópicos, e abriu a possibilidade para a inclusão de outros infinitos tópicos, assim chamados Tópicos Anômalos.


“A Estrutura de Pensamento abrange 30 tópicos estruturais, do grego Tópica, Lugar, ou seja, à muitos lugares nos quais nós encontramos as emoções, no entanto, no lugar onde nós mais à encontramos é exatamente aqui (indica no vídeo o Tópico 4 – Emoções).” (Transcrição de palavras do Profº Lúcio Packter em “Vídeos Caseiros de Introdução à Filosofia Clínica”)

Após ordenadamente colher a historicidade, o Filósofo Clínico se ocupa de retirar dela os seus conteúdos e elementos, distribuindo-os e sistematizando-os naquilo que chamamos de Estrutura de Pensamento. Aqui esbarramos com um dos principais diferenciais da Filosofia Clínica, pois nela não existe a realização de estudos de caso para uma generalização de resultados, métodos e sistemas, conforme frequentemente é realizado por outras terapias, seguindo uma idéia de método científico. Assim, o Filósofo Clínico considera cada pessoa única, com uma Estrutura de Pensamento individual e, portanto, aplicará procedimentos clínicos exclusivos conforme as características daquela EP, sem generalizações ou universalizações de regras terapêuticas.


Os 30 Tópicos que Lúcio Packter define para a Estrutura de Pensamento são:

 T1.      Como o mundo parece (fenomenologicamente);
 T2.      O que acha de si mesmo;
 T3.      T3p1 Sensorial & p2 Abstrato;
 T4.      Emoções;
 T5.      Pré-Juízos;
 T6.      Termos Agendados no Intelecto;
 T7.      Termos: T7p1 Universal, T7p2 Particular, T7p3 Singular;
 T8.      Termos: T8p1 Unívoco & T8p2 Equívoco;
 T9.      Discurso: T9p1Completo & T9p2 Incompleto;
 T10.     Raciocínio;
 T11.    Busca;
 T12.    Paixões Dominantes;
 T13.    T13p1 Comportamento & T13p2 Função;
 T14.    Espacialidade: T14p1 Inversão, T14p2 Rec. Inversão, T14p3 Deslocamento Curto e T14p4 Deslocamento Longo;
 T15.    Semiose;
 T16.    Significado;
 T17.    Armadilha Conceitual ;
 T18.    Axiologia;
 T19.    Tópico de Singularidade Existencial;
 T20.    Epistemologia;
 T21.    Expressividade;
 T22.    Papel Existencial;
 T23.    Ação;
 T24.    Hipótese;
 T25.    Experimentação;
 T26.    Princípios de Verdade;
 T27.    Análise da Estrutura
 T28.    Interseções de Estrutura de Pensamento;
 T29.    Dados da Matemática Simbólica;
 T30.    Autogenia;

T = Tópico
p = Partição (do tópico)

por Gilberto Sendtko

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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Critérios de Lembraça


O que você lembra na vida?
Quais os critérios
- algumas pessoas só lembram o que é relevante;
- outras somente lembram daquilo que as tocou afetivamente;
- outras somente lembraram do que é marcante;
- alguns apagam o que é ruim e outros só lembram o que é ruim, e às vezes tomam por padrão voltar a aquele assunto dezenas de vezes, pessoas que ao contar a vida só vão lhes contar tragédias;
- existem pessoas que matematizam a história, ou seja, ela se lembram das coisas que estejam associadas ou relacionadas à números, grandezas, medidas e proporções;
- existem aqueles cuja relação se dá através de elementos sensoriais, ou seja, eles se lembram muito do gosto das coisas, dos aromas, da sensação do toque...;
- existem alguns cujas lembranças são totalmente abstratas, ou seja, eles lembram das idéias, dos pensamentos;

Cada um de nós tem critérios sob os quais lembra, esquece ou ainda apaga suas memórias.

Oras, mas qual a utilidade disso? Bom, sabendo quais os critérios utilizamos para lembrar determinados fatos, podemos assim também marcar nossas vivências com coisas que tornem a vida mais suave, mais viva, mais bonita, e igualmente podemos esquecer coisas que muito nos machucam.

por Gilberto Sendtko