domingo, 16 de outubro de 2011


“Alguns confundem a luminosidade com o caminho para a luz.
Nem sempre o que você quer é o que você precisa ou o que lhe fará bem
(Lúcio Packter)

terça-feira, 12 de abril de 2011

Estrutura de Pensamento - EP


          Estrutura de Pensamento, ou simplesmente EP, é um termo utilizado na abordagem terapêutica denominada de Filosofia Clínica.

          A Filosofia Clínica é um método terapêutico que vem sendo considerado por muitas correntes terapêuticas e psiquiátricas como inovador, cujo foco encontra-se nos conteúdos da subjetividade humana e nos seus modos de ser singulares (uma terapia personalizada para cada indivíduo – criteriosamente formulada face à realidade única de cada ser), e o qual se baseia especialmente no pensamento filosófico e nas neurociências.

           O método foi desenvolvido pelo Filósofo e Terapeuta Lúcio Packter na década de 1980. Com formação nas áreas da medicina, da psicologia e da psicanálise, Packter trabalhou durante muitos anos em hospitais, em especial hospitais psiquiátricos. Durante este tempo, percebeu grandes problemas nestes métodos terapêuticos, tanto na teoria acadêmica (psicológica e psiquiátrica) quanto na prática clínica, em especial com os métodos generalistas utilizados, rompendo então com estes segmentos e passando a buscar outras possibilidades terapêuticas.  Indo estudar na Europa, Packter volta-se completamente para a Filosofia, debruçando-se profundamente sobre dezenas de autores, com foco no estudo da subjetividade humana.

         A Estrutura de Pensamento é definida por Packter como “tudo aquilo que habita o indivíduo”. Um exemplo simplista dos conteúdos que habitam nesta Estrutura de Pensamento seriam emoções, verdades subjetivas, concepções cerca do mundo, buscas, conhecimento, crenças e outros infinitos conteúdos. Essa Estrutura de Pensamento, conforme coloca Packter, vai se construindo, modelando, sendo preenchida de formas e conteúdos ao longo da história do sujeito e pode ser compreendida através de uma análise criteriosa da sua historicidade.

NOTA: a Filosofia Clínica se utiliza dos termos “história” e “historicidade”, cada qual com significados distintos. A historicidade constitui-se da história de vida do indivíduo, contada segundo o seu ponto de vista exclusivo, ou seja, por ele significada. Já a história constitui-se meramente de uma narrativa factual, livre de significações e interpretações.


Em clínica, após a colheita da historicidade do sujeito, os conteúdos desta são organizados por períodos temporais (Dados Divisórios), dados contextuais (Exames Categoriais), dados existenciais (Tópicos da Estrutura de Pensamento) e modos de ser (Submodos).

Percebe-se que sendo essa EP tudo aquilo que habita em em "mim", logo esse “eu” é anterior à ela. Assim, em Filosofia Clínica, podemos compreender a Estrutura de Pensamento como uma organização subjetiva que vai sendo construída ao longo da vida através de uma relação com o mundo. Este é um ponto fundamental, pois mesmo tendo Lúcio Packter uma explicação filosófica mais aprofundada para escolher esta forma de organização do “EU” e da "EP", não pode-se deixar de notar que, ao assumir esta postura, a Filosofia Clínica acaba por não ferir algumas concepções de mundo adotadas por parcelas humanidade, como, por exemplo, a crença na anterioridade do “eu”.

Originalmente a EP fora concebida para representar a Estrutura do Pensamento Filosófico e Terapêutico presente na história da humanidade. uma vez que Packter, durante suas pesquisas, se volta para pouco mais de sessenta pensadores, realizando um profundo trabalho de catalogação epistemológica.

Vejamos uma breve descrição deste trabalho:
“O que eu fiz foi o seguinte: primeiro me certifiquei que por mais que eu soubesse a respeito de qualquer coisa e a respeito de todas as coisas - eu jamais saberia o suficiente para saber às vezes até o necessário. Fora de um critério absoluto e lógico acho que não há defesa para isso. Depois, percebi a insistência de muitas escolas (praticamente todas elas) que procuram entender e responder as questões humanas, a quase todas as questões humanas, como se fossem donas de um saber sagrado. Bobagem!. Achei que uma alternativa a essa mutilação do saber seria tomar o entendimento dessas escolas, arregimentar todo esse conhecimento e então me acalmar para não achar que isso fosse o bastante para explicar todas as coisas... porque simplesmente não é.” (Packter, Lúcio. Porto Alegre, 2001) 

Assim, no início das suas pesquisas, Packter tomou o conhecimento destas mais de sessenta escolas, deixando de lado meras nomenclaturas e arregimentou todo esse saber em Tópicos na forma de uma estrutura, a Estrutura do Pensamento Filosófico e Terapêutico de praticamente toda a história da humanidade, uma série de conteúdos aqui em conversação e relação. 

Em seguida Packter identifica dá início aos trabalhos com indivíduos, identificando tais conteúdos também nos sujeitos, no entanto, agora livres de nomenclaturas e podendo ser identificados conforme as premissas subjetivas do indivíduo. Ele identifica assim os parâmetros de peso subjetivo, percebendo que determinados conteúdos dentro desta Estrutura possuem maior ou menor poder de determinação e movimentação sobre o restante dos conteúdos nela presentes.

Packter, ao elaborar o sistema que seria utilizado para a montagem da Estrutura de Pensamento, dividiu esta em 30 Tópicos, e abriu a possibilidade para a inclusão de outros infinitos tópicos, assim chamados Tópicos Anômalos.


“A Estrutura de Pensamento abrange 30 tópicos estruturais, do grego Tópica, Lugar, ou seja, à muitos lugares nos quais nós encontramos as emoções, no entanto, no lugar onde nós mais à encontramos é exatamente aqui (indica no vídeo o Tópico 4 – Emoções).” (Transcrição de palavras do Profº Lúcio Packter em “Vídeos Caseiros de Introdução à Filosofia Clínica”)

Após ordenadamente colher a historicidade, o Filósofo Clínico se ocupa de retirar dela os seus conteúdos e elementos, distribuindo-os e sistematizando-os naquilo que chamamos de Estrutura de Pensamento. Aqui esbarramos com um dos principais diferenciais da Filosofia Clínica, pois nela não existe a realização de estudos de caso para uma generalização de resultados, métodos e sistemas, conforme frequentemente é realizado por outras terapias, seguindo uma idéia de método científico. Assim, o Filósofo Clínico considera cada pessoa única, com uma Estrutura de Pensamento individual e, portanto, aplicará procedimentos clínicos exclusivos conforme as características daquela EP, sem generalizações ou universalizações de regras terapêuticas.


Os 30 Tópicos que Lúcio Packter define para a Estrutura de Pensamento são:

 T1.      Como o mundo parece (fenomenologicamente);
 T2.      O que acha de si mesmo;
 T3.      T3p1 Sensorial & p2 Abstrato;
 T4.      Emoções;
 T5.      Pré-Juízos;
 T6.      Termos Agendados no Intelecto;
 T7.      Termos: T7p1 Universal, T7p2 Particular, T7p3 Singular;
 T8.      Termos: T8p1 Unívoco & T8p2 Equívoco;
 T9.      Discurso: T9p1Completo & T9p2 Incompleto;
 T10.     Raciocínio;
 T11.    Busca;
 T12.    Paixões Dominantes;
 T13.    T13p1 Comportamento & T13p2 Função;
 T14.    Espacialidade: T14p1 Inversão, T14p2 Rec. Inversão, T14p3 Deslocamento Curto e T14p4 Deslocamento Longo;
 T15.    Semiose;
 T16.    Significado;
 T17.    Armadilha Conceitual ;
 T18.    Axiologia;
 T19.    Tópico de Singularidade Existencial;
 T20.    Epistemologia;
 T21.    Expressividade;
 T22.    Papel Existencial;
 T23.    Ação;
 T24.    Hipótese;
 T25.    Experimentação;
 T26.    Princípios de Verdade;
 T27.    Análise da Estrutura
 T28.    Interseções de Estrutura de Pensamento;
 T29.    Dados da Matemática Simbólica;
 T30.    Autogenia;

T = Tópico
p = Partição (do tópico)

por Gilberto Sendtko

DESEJA CONHECER A FILOSOFIA CLÍNICA? Acesse www.filosofiaclinicachapeco.com.br

GOSTARIA DE FAZER UM MINICURSO GRATUITO DE INTRODUÇÃO A FILOSOFIA CLÍNICA? ACESSE: http://www.filosofiaclinicachapeco.com.br/curso-online-de-filosofia-clinica

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Critérios de Lembraça


O que você lembra na vida?
Quais os critérios
- algumas pessoas só lembram o que é relevante;
- outras somente lembram daquilo que as tocou afetivamente;
- outras somente lembraram do que é marcante;
- alguns apagam o que é ruim e outros só lembram o que é ruim, e às vezes tomam por padrão voltar a aquele assunto dezenas de vezes, pessoas que ao contar a vida só vão lhes contar tragédias;
- existem pessoas que matematizam a história, ou seja, ela se lembram das coisas que estejam associadas ou relacionadas à números, grandezas, medidas e proporções;
- existem aqueles cuja relação se dá através de elementos sensoriais, ou seja, eles se lembram muito do gosto das coisas, dos aromas, da sensação do toque...;
- existem alguns cujas lembranças são totalmente abstratas, ou seja, eles lembram das idéias, dos pensamentos;

Cada um de nós tem critérios sob os quais lembra, esquece ou ainda apaga suas memórias.

Oras, mas qual a utilidade disso? Bom, sabendo quais os critérios utilizamos para lembrar determinados fatos, podemos assim também marcar nossas vivências com coisas que tornem a vida mais suave, mais viva, mais bonita, e igualmente podemos esquecer coisas que muito nos machucam.

por Gilberto Sendtko

domingo, 23 de janeiro de 2011

OS CAMINHOS INTERNOS E A ARQUITETURA DAS PALAVRAS - Analítica de Linguagem – Filosofia Clínica

.
Quando a gente coloca uma palavra ou frase de forma consciente, aquelas coisas que a gente fala com conhecimento, pensando naquilo dentro de um determinado contexto e tudo mais, essa frase, essas palavras tem encadeamentos próprios, tem conectivos internos próprios do indivíduo. Se eu falo assim para você: a brisa, a brisa macia, a brisa morna no verão. Imediatamente isso tem dezenas de ligações diretas com outros elementos diversos. Eu provavelmente lembro do vento subindo os rochedos do Morro dos Conventos, lembro o vento macio da tarde soprando pelo rio Araranguá em direção ao mar. Isso também me dá acesso à centenas de coisas periféricas e indiretamente ligadas à isso. Então surge o desejo de ir à praia, de descansar uns dias, de colocar os pés no rio, essas coisas.
Essa frase, essas palavras também excluem dezenas, centenas de outras manifestações indiretas que nada tem a ver com ela. Muitos não se dão conta destes aspectos de uma arquitetura interna das frases e dos pensamentos durante as conversas.
Existe essa arquitetura de conceitos de palavras dentro de cada um de nós. Usando aqui de analogia: assim como temos na garagem o carro da gente, as ferramentas de jardim, ferramentas de conserto, isso está infinitamente distante da nossa biblioteca e a dificilmente ligamos ou relacionamos uma coisa à outra. Muitos conceitos, muitos termos dentro de nós também passam por esse tipo de arquitetura. É uma arquitetura que pressupõe tendências, contradições, continuações, afinidades. Um exemplo bem concreto seria você conversar com uma pessoa sobre paz, sobre serenidade, sobre amor, e essa pessoa está tumultuada, cheia de ódio, cheia de mágoa. Para essa pessoa a conversa pode ser tão grotesca quanto se no meio de uma valsa suave fossem colocados sons de explosões de rochas e de pedras caindo. A pessoa diz: nossa, mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Não tem nada a ver!
Vamos à um exemplo ainda mais próximo do cotidiano dos tempos em que estamos vivendo. Uma pessoa que diga algo como “não da mais, preciso sair dessa, preciso mudar de vida, preciso modificar as coisas”. Quando uma pessoa faz uma frase dessas e a formula, o que acontece dentro dessa pessoa? Qual é a arquitetura que envolve essa construção de frase? Pela maneira como essa frase está colocada dentro da pessoa, o lugar que ocupa, pelas ligações diretas e indiretas como acabamos de ver que ela encera, essa pessoa, por exemplo, às vezes não tem nada associado à isso, ela não tem nenhuma vivência relacionada à isso, então o pensamento se torna errático, ele fica caótico, fica desordenado e vaga pelo mundo e acaba encontrando alguma coisa que sugira uma resposta, ou acaba encontrando o nada, que as vezes também é a resposta da pessoa.
Outras vezes, com a arquitetura já pronta, a pessoa percorre caminhos até previsíveis, assim como o corredor da nossa casa leva aos toaletes, leva aos quartos, leva ao jardim, à sala, também determinados pensamentos se tornam óbvios pelos caminhos que eles encerram dentro deles, e pela continuação que eles desenvolvem como encaminhamento.
Olha a importância disso é muito grande. Conhecendo a historicidade da pessoa, conhecendo a Estrutura de Pensamento dessa pessoa, quando ela diz para a gente algo do gênero “olha não da mais, eu preciso mudar de vida, não sei o que fazer”, nós, através da estruturação dessas palavras, dos caminhos aos quais elas levam, dos encadeamentos diretos e indiretos e da arquitetura de pensamento que envolveu essa construção de frase, poderemos abrir janelas nessa arquitetura. Podemos construir jardins, enseadas. Podemos trazer o sol e a chuva, podemos fazer parar o sol e a chuva, e outras coisas mais. Às vezes é possível fazermos isso e até mais do que isso.
Nesse mesmo caso, por exemplo, conhecendo a pessoa, podemos agendar nela algo direto, do tipo “olha faça isso, faça o seu curso de administração, é esse o caminho”. E é claro que eu não direi isso por que eu acho, eu vou dizer isso por que conhecendo a estrutura de pensamento dessa pessoa, eu saberei que esse é um dos caminhos que se anunciam e o melhor a ser tomado. Ou ainda eu posso interrogar a pessoa “o que você acha que eu posso fazer? O que quê você acha que é o caminho? Por que quê tem que ser assim e tudo mais?”. E mais uma vez é claro que eu só o farei se isso tiver a ver com a pessoa, se for da natureza da sua Estrutura de Pensamento que questionamentos lhe mostrem o caminho.
Ou podemos utilizar proibições do tipo “não faça isso, evite isso e tudo mais”. É evidente que tudo isso só faz sentido a partir do modo de ser da pessoa no mundo, senão nós caímos no chute, na experimentação fortuita e isso é perigoso.
.
.
.Transcrição e adaptação de palavras do Profº Lúcio Packter por Gilberto Sendtko.